Liberação da maconha 'quebrava' 80% das quadrilhas baianas, diz Secretário de Segurança Pública

“Fazer crítica à segurança pública todo mundo sabe. Agora cada um
assumir o seu papel, aí que é muito difícil, e eu volto isso inclusive à
sociedade. Venha cá, nós queremos o quê? Uma sociedade sem droga?
Ótimo. E o papel do consumidor nesse aspecto? ‘O problema é do tráfico,
não é de quem consome’. Eu não quero entrar nessa polêmica. Eu só acho
que a gente, a sociedade brasileira, tem que discutir isso aí”,
defendeu, comparando a situação do Brasil com a de países europeus. “Os
Estados Unidos investem mais de R$ 1 trilhão na guerra contra as drogas e
é o maior mercado consumidor de drogas no mundo. E se vê países
europeus que adotaram outra visão de redução de danos. Ou seja: o Estado
fornece a droga para o viciado, o dependente químico, a partir do
momento em que ele se integre ao planejamento de sair do vício. Ele sai
da figura do traficante: o próprio Estado dá a droga, diante de uma
série de questões que a pessoa tem que fazer para se libertar do vício.
Os índices de criminalidade nesses países reduziram drasticamente”.
Barbosa cita ainda os efeitos no financiamento do tráfico de drogas,
caso o modelo fosse adotado. “Aqui se discute enfrentamento à
criminalidade, sem se discutir as causas que levam ao fortalecimento do
tráfico de drogas. Exemplo: se discutíssemos, e a população brasileira
quisesse a liberação da maconha… Hoje 80% do financiamento das
quadrilhas de tráfico de drogas da Bahia vem da maconha”, calcula. “Se
aceitássemos, através de uma opinião da sociedade, as modificações das
leis, que a maconha fosse liberada hoje, eu quebrava financeiramente
hoje as quadrilhas em 80%. Não é uma coisa a ser pensada, é óbvio que é.
Só que ninguém quer, o país é extremamente conservador para se discutir
essas questões, mas ao mesmo tempo não quer meter a mão para resolver o
problema. Essa discussão vai além da polícia. A polícia sofre as
consequências da ponta. Tudo que a sociedade não quer discutir, quer
marginalizar, é problema da polícia. É a nossa visão isso, tem que andar
de forma conjunta”. O titular da SSP também queixou-se da participação
do Município no fornecimento da estrutura necessária para a resolução
dos índices de criminalidade de maneira estrutural. “Com o Município de
Salvador [o diálogo] é zero. Zero. As Bases Comunitárias estão aí desde
2011, nunca recebi uma autoridade da prefeitura para dizer o que pode
ser feito nas áreas de base comunitária de forma integrada”. Segundo
Barbosa, a pasta apresentou as necessidades das localidades à
administração municipal. “Logo que se iniciou a gestão do prefeito ACM
Neto, nós buscamos sentar com todas as autoridades da prefeitura e
inclusive com um rol de ações que nós acreditamos ser de atribuição da
prefeitura para que fossem adotadas de forma conjunta: iluminação
pública, abertura de via, limpeza, coleta de lixo. Nunca avançou.
Nunca”. Neste sentido, fez novas comparações, desta vez com países
vizinhos, em referência à presença do Estado para além da polícia. “Qual
foi a política de enfrentamento às drogas que deu certo no mundo?
Nenhuma. A única diferença nossa com os países de Primeiro Mundo é o
volume de dinheiro investido, e a seriedade na condenação de seus
presos. Eu estou falando de países sul-americanos. O Brasil tem a mesma
realidade do México e da Colômbia. Qual foi a diferença da Colômbia para
o Brasil? Lá eles intervieram em outras áreas, não só na Segurança
Pública. Você entra em uma favela de Bogotá, você vai ver saneamento
básico, melhoria das condições de habitação, biblioteca”. (Bahia
Notícias - Luana Ribeiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário